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Figo da Índia – Importante Fruta de um Cactos

Em “As frutas na medicina doméstica” de Alfons Balbach, como também no “Dicionário das Plantas Úteis do Brasil”, vol. III, de M. Pio Corrêa, encontramos valiosa informação e detalhada descrição do fruto de uma planta da família dos cactos, que apresenta alto valor nutritivo e medicinal, mas pouco conhecido e por isso quase nunca consumido em nosso país, a não ser no Nordeste.

Cultivado e explorado comercialmente em muitos países do mundo, para consumo “in natura”, como também na indústria de doces, geleias e bebidas fermentadas, em muitas regiões do Brasil tem sido cultivado apenas como planta ornamental e pouco explorado em relação ao valor de seus frutos. Visando divulgar suas virtudes, pela grande utilidade dos frutas e da planta vamos transcrever parte dos ensinamentos dos livros citados.

figo da índia

Figo da Índia

1) O figo-da-índia (Opuntia ficus indica), também chamado figo-de-barbaria ou tuna, é produzido por uma planta a família das Cactáceas, originária do México e aclimatada no Brasil. Composição química – Em 100 gramas de figo-da-índia encontram-se: Calorias – 22,70; Água – 94,0 g ; Hidratos de carbono – 5,02 g ; Proteínas- 0,5 g; Gorduras – 0,07 g; Vitamina A – 130 U.I. ; Vitamina B 1 (Tiamina) – 10,0 mcg. ; Vitamina B 2 (Riboflavina)-20,0 mcg.

Uso Medicinal

Uso medicinal – O figo-da-índia (fruto) é considerado como adstringente (antidiarrético e antidisentérico), peitoral, antiasmático, béquico. Para combater a asma e outras afecções das vias respiratórias, come-se assado ao forno.

O suco aproveita-se para fazer um bom xarope contra a tosse. Pelam-se alguns figos com faca e garfo, tendo-se o cuidado de evitar os minúsculos espinhos que revestem a casca. Cortam-se em rodelas. Colocam-se numa vasilha. Cobrem-se com açúcar e deixam-se repousar durante a noite. Pela manhã, coa-se para afastar as sementes, e toma-se às colheradas durante o dia.

De modo semelhante os artículos (as folhas), que se fendem ao meio e se cobrem com açúcar dão um xarope bom para a tosse e mesmo para a coqueluche. O suco mucilaginoso que se obtém dos artículos, contém propriedades peitorais e emolientes. Tem aplicação contra a erisipela, as dores, as inflamações.

Em caso de inflamações ou inchaços, pode aplicar-se diretamente sobre as partes afetadas um articulo cortado ao meio. O Dr. Luís G. Cabrera apregoa as qualidades curativas das opuntias, afirmando: “ Graças aos seus sais minerais, estas plantas, em decocção, têm efeitos diuréticos.

De fato, aumentam a quantidade de urina, e como também aumentam a alcalinidade da mesma, são úteis nos casos de inflamação da bexiga e da uretra, diminuindo a sensação de ardor quando há cistite e uretrite. O decocto tomado em doses elevadas, favorece as evacuações intestinais, agindo, pois, como laxante. Afirma-se também que expulsa os vermes intestinais.

Os frutos tem ação semelhante. Quando ingerem figos vermelhos, a matéria corante, que passa para a urina, parece ter propriedades antissépticas que lhes aumentam as qualidades terapêuticas. A cactina, um alcaloide contido em algumas espécies, atua como tônico cardíaco, tornando mais amplas e mais fortes as contrações. Não é tóxico, nem acumula seus efeitos, pelo que pode ser usado por algum tempo.

Os artículos de tuna, cortados ao meio, aquecidos, e postos sobre a parte em que haja formação de abscesso, favorecem o seu amadurecimento.” Dr. Teófilo Luna Ochoa diz: “ Os artículos partidos , cobertos com mostarda ou regados com vinagre, ao forno, e aplicados em forma de cataplasmas, são excelentes contra as afecções do fígado e as dores de cabeça.

Os artículos partidos e ligeiramente assados, aplicados em forma de cataplasmas, atuam beneficamente contra as dores reumáticas nas costas. Finalmente, diz o Dr. Luna Ochoa, os artículos cortados em pedaços e postos de molho em água são insuperáveis contra a hidrofobia .” As flores encerram propriedades diuréticas e são úteis contra as afecções das vias urinárias.

Usam-se em decocção. O decocto das flores, ao qual se acrescenta mel, dá um xarope que se ministra às crianças, quente, às colheradinhas, em caso de tosse. Na Arábia costuma-se preparar um decocto concentrado de flores de tuna para combater as diarreias e as disenterias.

A raiz, em decocção, também encerra propriedades diuréticas. Valor alimentício. O figo-da-índia é uma fruta muito saborosa e saudável. Deve ser comido de preferência ao natural, mas também se presta para confecção de doces e geleias. É um alimento de primeira ordem para os desnutridos e debilitados. ( Reproduzido de As frutas na medicina Doméstica, p. 176 a 179 ).

Figueira da Barbaria

figueira da barbaria

2) Figueira da Barbaria Opuntia ficus-indica (Cactus ficus-indica, O. ficus-barbaria, O. vulgares, da família das Cactáceas. Arbusto perene, ereto, atingindo 5-6 metros de altura, ramoso, composto de artículos ou segmentos carnosos, superpostos uns aos outros, espatulados, comprimidos, achatados, ovado-oblongos, até 60 cm de comprimento, 30 cm de largura e 3 cm de espessura, obtusos nas duas extremidades, de cor verde-claro e atravessados por um eixo lenhoso muito distinto, armados de espinhos de 2 cm de comprimento, amarelo-brancacentos, fasciculados, vigorosos, porém com a idade aglomeram-se , comprimem-se mais ainda e tornam-se cilíndricos, quase contínuos e completamente lenhosos, perdendo também os espinhos; folhas indivisas, subuladas, avermelhadas, apenas de 3 milímetros ou ainda menores, caducas, mui freqüentemente nulas; flores sésseis, hermafroditas, solitárias, laterais ou terminais, de 7- 10 cm de diâmetro e cor amarelo-claro ou amarelo-laranja; ovário de 5 cm, ínfero, 1-locular; fruto baga obovoide, vermelha, sanguínea, amarelo-esverdeada, ou brancacenta (conforme a variedade), de 5-9 cm de comprimento, espinescente, deprimido, umbilicada no ápice e contendo numerosos sementes comprimidas.

Esta planta, indiscutivelmente americana, mas da qual não há certeza do habitat primitivo, já desde longo tempo deveria ser cultivada no México, quando chegaram ali os conquistadores, pois estes encontraram diversas variedades, certamente resultantes de uma cultura inteligente e prolongada; os espanhóis, reconhecendo o valor da planta, levaram-na para outros pontos do nosso continente, então sob a influência político militar, assim como para as Antilhas, a Itália e a própria Espalha, sendo que desta a introduziram os mouros em Marrocos e de lá irradiou para todo o norte da África.

Os portugueses introduziram-na no Brasil, em Angola, na Índia e decerto em outras regiões, sendo que em toda parte se aclimatou perfeitamente , tornando-se subespontânea e tão vigorosa que até parece indígena, sendo que vegeta bem sob as temperaturas mais elevadas e até suporta 6º a 8º C abaixo de zero, assim como resiste às secas mais prolongadas, graças à considerável quantidade de água armazenada nos artículos.

A maior importância desta espécie, pelo menos no continente americano e na Europa, consiste no fruto ( “higos chumbos”, no Uruguai), de que há pelo menos 10 variedades, inclusive uma sem sementes, a mais reputada de todas ; é constituído por 28 a 32 % de casca e 68 a 72 % de polpa comestível , cor de carmim , muito doce, com a seguinte composição química : 47,46 % de água, 36,64 % de substancias glucogênicas, 6,73 % de substâncias protéicas , 6,27 % de sementes, 0,76% de cinzas e 0,02 % de substâncias gordurosas.

Constituem , durante vários meses em cada ano , um grande recurso alimentar para as classes pobres da Algéria, do México, da Sicília, da Tripolitânia e de outros países, nos quais a produção é enormíssima, sendo que alguns desses países fazem a exportação do fruto fresco e também seco ou passado, ou ainda reduzido a geleia, marmelada ou xaropes, aparecendo em muitos mercados europeus, notando-se que na Itália vai mesmo às melhores mesas.

No México, ainda o fruto entra na composição dos mais finos doces, assim como na fabricação do “mel de tuna”. Além de saboroso e digestivo, é reconhecido diurético e anti-escorbútico, útil contra as febres gástricas biliosas, precipitando em vermelho o pigmento que sai na urina; pisado, enquanto verde, aplicam-no topicamente contra úlceras de mau caráter.

A indústria obtém ainda destes frutos certas vantagens: em Marrocos, servem para o preparo de uma bebida alcoólica; no Novo México reconheceu-se que encerram cerca de 10% de açúcar direta e completamente fermentescível em álcool; outros estudos, decerto mais aprofundados (Prof. Pentanelli), concluíram pelo reconhecimento da conveniência e proceder-se à fermentação do fruto inteiro, isto é, não privado da epiderme, pois nesta existe uma porção ainda maior de açúcar em combinação glucosídica com o cromógeno da substância corante vermelha, dissociável durante a fermentação. As flores são adstringentes, mucilaginosas e antidiarréicas, constituindo artigo de exportação pela alfândega de Tripoli.

Eles tem uma particularidade : como os ovários são viviparos, enterrando-se uma flor, pode obter-se a reprodução da planta. Ë espécie muito polimorfa e da qual há pelo menos quatro formas distintas e bastantes variedades , todas utilíssimas para consolidar os terrenos litorâneos ; excelente para cercas vivas, que em pouco tempo tornam-se impenetráveis, é para isso empregada em toda parte. Na Abissínia plantam-na até em redor das aldeias , para defende-las dos assaltos das feras.

É também uma das melhores plantas para aceiros ou divisas de propriedades, porque é incombustível, graças à elevada quantidade de água que contém e assim impede a propagação de incêndios nas florestas. (Dic. das Plantas Úteis do Brasil, Vol. III , p. 205 a 209)

Pelo seu reconhecido valor no mundo, o figo-da-índia é uma planta que devemos incentiva-la em nossa região, pelo seu valor nutritivo e medicinal, além de ser ornamental, servir como cerca viva e também para aceiro verde e ecológico, evitando o fogo destruidor dos incêndios criminosos que impedem e desestimulam os reflorestamentos.

Em nossa propriedade temos cerca de 30 pés, com 6 já em produção. Propaga-se facilmente pelos seus segmentos ,assim como por semente. Temos distribuído mudas para todos os interessados. É semelhante a palma sempre cultivada no Nordeste e ultimamente incentivada com financiamento em plantios de grandes extensões, como forrageira que resiste a estiagem prolongada que destrói quase todos os outros alimentos verdes para o gado bovino.

 Ruy Gripp  – 13 / 02 / 98

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